Ainda não saímos das tragédias. Desta vez, as cenas de Haiti estampam a nossa mídia. Cenas de horror. Como aquelas que os jornais estamparam nas primeiras páginas, mostrando amontoados de mortos espalhados pelas ruas, nos dias seguintes à catástrofe. E também as imagens de saques e violências populares, qualificadas como “incivilidades”.
As imagens colam. Haiti, graças a essas divulgações midiáticas, tornou-se sinônimo de catástrofe. Jogado ao isolamento e ao esquecimento pela França e outros impérios escravocratas, por medo da disseminação de rebeliões negras, o Haiti só é lembrado pelas suas desgraças: terremotos, furacões, golpes militares, pobreza, fome e miséria. A mídia não cessa de informar que se trata do país mais pobre das Américas.
Na ocasião da queda do governo de Jean-Bertrand Aristide, quando o ex-padre foi exilado pelos franceses e norte-americanos na África (2004), os haitianos denunciavam o preconceito da imprensa: “Não admito que o Haiti seja o país mais pobre da América; ele é o país mais empobrecido, pois, ainda hoje, guarda muitas riquezas naturais que não estão sendo exploradas, como a coragem e a determinação do povo, sua alegria, o clima, a natureza, as praias, os lugares históricos, etc.”, retrucava o estudante haitiano Dudley Mocombe (Contraponto, 20/09/2004).
As atuais imagens sensacionalistas podem reforçar ainda mais o preconceito contra os haitianos. Agora, também como selvagens incivilizados, além de pobres e negros. A horda primitiva que se desperta nos momentos de extrema necessidade e de sobrevivência.
Márcio Gagliato – mais uma vez apelo às suas observações e críticas, pela suas experiências em serviços humanitários – condena a idéia, amplamente divulgada por setores da mídia de que a sobrevivência em situações como essa gera a perda de civilidade.
“Não concordo com a tese de que a luta pela sobrevivência anula a civilidade”, enfatiza Márcio.
“Citei exemplos como o do tsunami de 2004, onde a mobilização interna surpreendeu a comunidade internacional. Relatos dos colegas que estão no Haiti estão horrorizados com esse sensacionalismo que a mídia está fazendo sobre os saques. Pelo contrário um relatório oficial e interno relata que a maioria da população haitiana está mobilizada na procura e ajuda dos sobreviventes”.
Do outro lado, Pétria Chaves, da CBN, lembrou em uma entrevista que a tendência das pessoas é recusar-se a ver tragédias estampadas nas telinhas e nos jornais, principalmente na época do Ano-Novo, como ocorreram neste início de 2010. Vamos pensar que essa recusa não seja apenas uma negação da realidade. Porque há um exagero nas exposições das vítimas. Como Gagliato enfatizou, é importante não vitimizarmos mais ainda as vítimas. Principalmente o Haiti e os haitianos.
Taeco Toma Carignato é psicóloga psicanalista e jornalista. Doutora em psicologia social (PUC-SP) e pós-doutora em psicologia clínica (USP), é pesquisadora do Laboratório Psicanálise e Sociedade (USP) e do Núcleo de Pesquisa: Violência e Sujeito (PUC-SP).
Que legal é muito gratificante ver que no mundo em que estamos onde os jovens só querem saber de adrenalinas ainda existe jovens como você que preocupa-se com os acontecimentos do nosso país e que com uma maneira inteligente procurou usar a internet para uma boa ação que é a de informar aqueles que vivem no mundo da lua que o nosso país tem acontecimentos marcantes que por uma vez pode mudar a história toda uma nação como foi o caso do Haiti.
ResponderExcluirAbraços primo querido!
Elikênia Martins
Adorei o Blog
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